sábado, 17 de maio de 2008

A SEXUALIDADE NO PROCESSO DO ENVELHECIMENTO

Por Adriana Leocádio
www.portalsaude.org

As terapias de reposição hormonal assim como as novas moléculas (sildenafil, tadalafil) que lutam contra as disfunções da ereção revelaram a demanda crescente na área da saúde sexual na segunda metade da vida. Entretanto, o lugar da sexualidade no processo de envelhecimento constitui um assunto particularmente contaminado por preconceitos.
Problemática
A pirâmide das idades mostra um envelhecimento progressivo da população nos países ocidentais. A visibilidade social desta camada da população é atualmente um fenômeno presente em todos os países que conseguiram dilatar a esperança de vida através dos progressos combinados da medicina e do meio ambiente. As repercussões do processo de envelhecimento sobre a sexualidade constituem um assunto particularmente contaminado por preconceitos.

Até recentemente, ainda se acreditava que por volta dos cinqüenta anos o declínio da função sexual era inevitável face à menopausa feminina e à instalação progressiva das disfunções da ereção masculina. Além disto, a atividade sexual perdia fatalmente seu objetivo de procriação e, portanto, sua justificativa social. A concepção pioneira de Freud (1905/1969) afirmando o prazer como objetivo da sexualidade humana liberou-a da obrigação de resultado pela reprodução. A tese de Freud veio a ser confirmada com a recente emergência do conceito de saúde sexual e com a sua dissociação progressiva do conceito de reprodução, o que coloca em evidência a autonomização da vida sexual e sua importância para a realização e o bem-estar dos indivíduos durante toda a vida (Giami, 2003). Mas esta liberdade ideológica só pôde tornar-se realidade com a conquista tecnológica dos hormônios sintéticos. Tornou-se assim possível tanto a contracepção quanto a terapia de reposição hormonal que facilita manter a função sexual prazerosa após a menopausa. Mais recentemente, o sildenafil e o tadalafil vieram proteger os homens das perturbações da ereção cujo potencial patológico se revela provavelmente muito mais a nível psicológico que fisiológico. Assim, os progressos da medicina minimizam as barreiras biológicas que dificultavam a manutenção da atividade sexual na segunda metade da vida. Espera-se que junto com a dilatação da esperança de vida e do progresso científico e técnico que homem tem sido capaz de pôr em marcha, haja uma evolução social e cultural e uma mudança das mentalidades capaz de integrar a sexualidade das pessoas idosas harmoniosamente em tais avanços.
AUTO-ESTIMA NA 3° IDADE
Nos dias atuais, uma das preocupações em relação ao envelhecimento, são as questões ligadas ás qualidade de vida e auto-estima na velhice.
Envelhecer não significa parar no tempo e sim continuar mantendo a integridade mental e física até os últimos anos de vida. Velhice não implica necessariamente doença e afastamento, quanto mais eles forem atuantes e integrados em seu meio social, menos ônus trarão para a sua família e para os serviços de saúde. É possível ter um envelhecimento bem-sucedido, envelhecer não é um fator de risco, pois há evidências de que as pessoas mais velhas tornam-se mais eficazes no uso de processos adaptativos, tendem a apresentar boa capacidade para compreender a relação entre as condições que definem o que é possível, ou não, e aplicar tal conhecimento em seu desenvolvimento pessoal e em sua adaptação.
As avaliações pessoais e sociais são importantes na determinação do grau de satisfação com o envelhecimento e com a velhice, mantendo um envelhecimento bem-sucedido e bem-estar psicológico. Segundo Neri e Freire (2000), o bem-estar psicológico é um dos determinantes de uma velhice bem-sucedida, expressão que diz da possibilidade de os idosos manterem a saúde e a funcionalidade física, mental e social, bem como preservarem elevada capacidade de adaptação, a partir de investimentos pessoais e culturais iniciada precocemente. O envelhecimento bem sucedido está relacionado à boa qualidade de toda uma vida. Os indivíduos envelhecem de forma diferenciada, dependendo de como organizam suas vidas, das circunstâncias históricas e culturais em que vivem, etc. Isso faz com que adaptem às transformações ocorridas em si e no meio em que está inserido, sendo um processo individual.
De acordo com Branden (2001), ciência é a arte de gostarmos de nós mesmos, e de como isso é importante para o equilíbrio psicológico na velhice, em parte porque a auto-estima é parte do conhecimento que temos a respeito de nós próprios, em parte porque ambos são importantes mediadores do bem-estar psicológico, das realizações do senso de integridade, das capacidades de lidar com os eventos de transição e da definição de metas.
Portanto, auto-estima significa gostar de nós mesmos, não se trata de excesso de valorização de nossa própria pessoa, e não aparece de modo isolado, ela se desenvolve como parte de nossa personalidade.
Para se construir uma identidade exige tempo, vivenciar muitas coisas para selecionar o que fará parte de nós. A integração é também um fator muito importante à auto-estima.
Contexto científico
Para compreender a problemática da sexualidade nos adultos maduros e idosos (após os 50 anos de idade), é preciso levar em conta os fatores básicos que afetam o comportamento e a resposta sexual em qualquer idade:
1. Saúde física. A doença pode reduzir ou impedir o interesse pela sexualidade em qualquer idade.
2. Preconceitos sociais. Do ponto de vista do ciclo vital, o envelhecimento é um processo bio-psico-social, ou seja: caracterizado por mudanças fisiológicas, psicológicas e nos papéis sociais.
3. Auto-estima. Na sociedade contemporânea, os valores culturais orientados para a juventude tendem a depreciar os indivíduos idosos em termos de sua aptidão e atração sexual, particularmente as mulheres (Leiblum, 1990). Pessoas desta faixa etária são compelidas a aposentar-se também do terreno sexual, no qual as iniciativas representam um risco importante de desapontamento e frustração.
4. Conhecimentos sobre a sexualidade. Master e Johnson (1970) explicam que muitos homens deixam de ter relações e se tornam impotentes porque, não compreendendo as mudanças fisiológicas ligadas ao processo do envelhecimento, interpretam-nas como sendo sintomas de impotência.
5. Status conjugal. A regularidade das relações sexuais da faixa etária em referência (depois dos 50 anos de idade) está muito ligada à oportunidade representada pela situação conjugal.

A geração que ultrapassou os cinqüenta anos, idade que marca o início das alterações bio-psico-sociais caracterizando o envelhecimento, confronta-se atualmente com um conflito entre os estereótipos e os valores ligados à sexualidade internalizados ao longo da vida e a oferta recente de recursos que permitem assumir as inclinações pessoais realmente percebidas.

Colaboração: Simone Petinatti - Hair Stylist - Fone: (11) 3094.2640
Simone da Cunha Costa - Psicologa

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