sábado, 26 de julho de 2008

Promoção da saúde X acessibilidade

Promoção da saúde X acessibilidade
por Adriana Leocádio
24/07/2008
Para a especialista em comportamento do consumidor, Adriana Leocádio, há uma grande diferença entre teoria e prática no acesso à medicina
A relação entre a saúde e as condições gerais de vida das populações foi constatada e explicitada na origem da medicina moderna. Os médicos, envolvidos com o intenso movimento social que emergiu ao relacionarem a doença com o ambiente, articulavam-no também às relações sociais que o produziam. A medicina fundia-se à política e expandia-se em direção ao espaço social.
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Esse pensamento identifica-se com a perspectiva anticontagionista, que atribui a doença a um desequilíbrio do conjunto de circunstâncias que interferem na vida de um indivíduo ou de uma população, constituindo uma predisposição favorável ao surgimento de doenças.
O movimento da medicina preventiva surgiu visando dar uma melhor qualidade de vida a população. A concepção de níveis de prevenção foi incorporada ao discurso da Medicina Comunitária no Brasil na década de 1960 e orientou o estabelecimento de níveis de atenção nos sistemas e serviços de saúde que vigoram até hoje. Foi amplamente difundida durante os anos 1970 e 1980, juntamente com as propostas de Atenção Primária em Saúde e a idéia de "saúde para todos no ano 2000", contida na declaração de Alma-Ata (Teixeira, 2001). Contudo, o desenvolvimento da medicina no Brasil manteve a predominância de uma prática individual, com enfoque curativo dos problemas de saúde e a as dicotomias teoria-prática; psíquico-orgânico; indivíduo-sociedade, ou seja, chegamos a 2008 sem conseguirmos colocar em prática o Projeto feito para o ano 2000: "saúde para todos".
Agora a minha pergunta é: por que não evoluímos? Para onde foram os recursos destinados à saúde? Toda a arrecadação da CPMF? E, para mim, o que é ainda pior, para onde irão os recursos?
Técnicas de exames complementares com sofisticação crescente aperfeiçoaram as ações preventivas com base no diagnóstico precoce. Foram construídos recursos poderosos para prevenção de doenças, incapacidade e morte por problemas como cardiopatia isquêmica, algumas formas de câncer, doenças pulmonares obstrutivas crônicas, etc.
Mais uma vez, tudo na teoria fica bem mais bonito e plausível. Personagens e formadores de opinião indo a mídia falar sobre prevenção, programas de conscientização, etc.
Tudo é muito válido, a informação é válida. É bom que as pessoas saibam que existem meios de tratar melhor suas "doenças", mas agora vem a pergunta: Tudo é realmente válido e produtivo na hora que precisamos e vamos buscar o acesso à realização de tantos exames preventivos que nos oferecem? Não. Isto não é válido, nem tampouco produtivo, pois é nesta hora que nos deparamos com verdadeiras condições subumanas.
Será que com isso tudo acontecendo, ao invés de qualificarmos a população em termos de informação, não estamos fazendo-a caminhar para um nível de estrangulamento onde não há nenhuma luz no fim do túnel?
Convido todos a fazer um breve exercício mental: o que acontece com uma mulher que realiza o auto-exame da mama, detecta um caroço e vai em busca da realização de um exame de mamografia no SUS ou sequer uma mera consulta para fazer um diagnóstico geral? No mínimo vai aguardar uma fila de seis meses de espera. Isso falando de São Paulo, Capital, que ainda é considerada a referência no Brasil.
Inúmeros eventos internacionais, publicações conceituais e resultados de pesquisas práticas foram elaborados no decorrer dos últimos 15 anos, evidenciando a grande diversidade de perspectivas contempladas no campo da promoção da saúde. Por um lado, observa-se uma tendência que privilegia, nos projetos em promoção da saúde, a dimensão comportamental e do auto- cuidado.
Os conceitos de prevenção de doenças e de promoção da saúde não se distinguem claramente na prática do setor saúde. As práticas em promoção da saúde, da mesma forma que as de prevenção de doenças, fazem uso do conhecimento técnico e científico específico do campo da saúde.
O importante nesse artigo é ressaltar que continuamos mais do que nunca, vivendo um momento de total falência do sistema Único de Saúde, vide o caso dos recentes 20 óbitos registrados em uma semana na Santa Casa de Misericórdia de Belém, no Pará. E ainda tivemos que ouvir estupefatos a Secretária de Saúde do Estado, Laura Rosseti, que atribuiu os óbitos ao estado clínico no qual "as crianças chegam para atendimento". Seguindo por esse caminho, eu poderia escrever um livro narrando diferentes casos.
Talvez muitos não saibam que existem somente quatro especialistas que operam endometriose, uma doença muito comum -e séria - entre mulheres na capital de São Paulo pelo SUS, que tem capacidade de fazer até 100 operações por mês, mas, só realizam UMA.
Jamais devemos desistir da luta, mais fica muito difícil de combater as diferenças quando todos só têm interesse em divulgar o que é bonito.
Por isso, o meu objetivo é abordarmos como vamos dar acesso à população, para que ela possa ter a chance de uma qualidade de vida mais digna. Fazer valer seus direitos no que tange à saúde, convocar a mídia, a população e os médicos a abraçarem esta causa. Vamos juntar forças com as ONGs que representam algum tipo de patologia clínica e cobrar do Governo nossos devidos direitos constituídos.
Contem comigo!
Adriana Leocádio é especialista em comportamento do consumidor e presidente do portal Saúde: ww.portalsaude.org

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